Goste ou não de Chaves, todos os brasileiros sabem que Acapulco é um lugar lindo, com calor, praia e diversão. Mas o que pouco se fala é que o episódio que colocou essas informações como parte da infância de tantas pessoas é um conteúdo de marca/branded content.
Na minha época, a lenda dizia que foi um episódio feito para se despedir de Carlos Villagrán – o Quico – que sairia do elenco fixo. Nesse caso, o trecho “prometemos despedirmos sem dizer adeus jamais, pois haveremos de nos reunirmos muitas vezes mais” acabou sendo uma profecia, já que o ator continuou no amado programa.
Foi sem querer querendo?
Se você jogar no Google “Hotel Acapulco Chaves”, os primeiros resultados (patrocinados, inclusive) te mandam para a página de reserva do Hotel Emporio Acapulco (antigo Acapulco Continental).
Você pode pensar que é só mais uma locação que ficou famosa por causa de algo gravado lá, como diversos monumentos pelo mundo, mas a ordem é justamente oposta: o Hotel Acapulco Continental foi quem pagou pela produção que nos deixa com vontade de tirar umas férias e ir assar salsichas na praia.
Segundo o maravilhoso artigo de Renan Hamann no Linkedin, o hotel tinha acabado de ser restaurado e seu novo dono, um dos diretores da Televisa, encomendou à Roberto Bolaños (nosso Chaves) um episódio lá.
O famoso Branded Content
É aí que aparece o tal do Branded Content, ou conteúdo de marca, como chamamos em nossa área: que nada mais é do que uma publicidade não interruptiva e mais integrada, na qual a marca endossa (e paga) a narrativa para comunicar seus valores, seu propósito ou até instigar o uso mais do seu produto, como nesse caso.
Assim, de forma magistral, a trama dá uma lição de narrativa integrada, usando o mesmo tom de voz, estilo de atuação e roteiros que os fãs da série estão acostumados, para passar a mensagem. Em conjunto com isso, o episódio é super emocionante e é quase impossível terminar de assisti-lo sem um nó na garganta. Nos créditos surge um texto de agradecimento ao hotel.
Se nós brasileiros sonhamos em ir para lá, imagine os mexicanos ao verem isso pela primeira vez?
Branded Content à brasileira
Já aqui no Brasil, em 1985, na novela das 20h, dois homens encaram um outdoor onde há uma modelo só de calcinha. Um gargalha, outro corre em desespero. A câmera dá um zoom na calcinha. Em outros momentos, o personagem olha para o outdoor e vê que a mulher de calcinha dança para ele, mostrando que o professor enlouqueceu. A calcinha causa, inclusive, outras discussões com os moradores de Roque Santeiro. Quando vista em um plano aberto, pode se ler: “A Calcinha que mexe com a cabeça dos homens – calcinhas HOPE”.
Integrando o machismo, exposição do corpo da mulher e uma campanha que a própria marca estava veiculando à época, os moradores de Roque Santeiro foram impactados por um anúncio, discutiram sobre ele, e nós (no caso de quem assistiu, claro) vemos essa interação acontecendo como parte da trama, causando curiosidade e realmente vendo um homem ter sua cabeça “mexida” pela calcinha.
Alguma relação com a cultura de influencia de hoje em dia?
O que esses dois momentos da TV tem a ver com o #publi?
Um bom #publi no Instagram, YouTube ou em qualquer outra rede, não é só um “vídeo de recebidos” gravado às pressas. É uma história que mostra como a marca (produto ou serviço) se integra à narrativa que o criador tem em suas redes, seu tom de voz e a forma como se relaciona com seus seguidores, como esse belo exemplo de Telecine no canal da Larissa Vaiano – onde a marca endossa uma história que faz sentido para o canal:
Uma marca que encomenda um #publi e quer controlar o que, como e onde esse conteúdo entrará na rede dos influenciadores nada mais seria do que o Hotel Acapulco Continental interferir em uma cena onde Chaves e Quico correm à beira da piscina para mostrar alguém falando como o café da manhã colonial é ótimo e por apenas 200 pesos. Isso faz sentido com o que estamos acostumados a ver na série?
O conteúdo de marca não pode ignorar onde é exibido: tem que se integrar ao meio. O caminho para isso não é fácil, pois pede que a marca entenda que não controla a recepção e nem pode controlar a narrativa amplamente, se aliando ao estilo e formato do criador de conteúdo e cuidando apenas para deixar claro qual a mensagem que deseja passar.
E você, conhece outros exemplos de #publi feitas como conteúdo de marca? O que acha deles?